
Por que o sono é tão vital? O que a ciência já sabe e só mães entendem — e o que ainda é mistério.
Quando você se vê tentando explicar por que um bebê precisa dormir — ou por que a privação de sono te desmonta por dentro — pode parecer óbvio. “Porque o corpo precisa descansar.” Mas o que essa frase quer realmente dizer?
A ciência do sono tem avançado muito, mas ainda não tem uma única resposta para a pergunta “para que serve o sono?”. O que sabemos é que ele é essencial. E que não dormir tem efeitos profundos — no humor, na cognição, no metabolismo, na memória, na saúde física, mental, e até no sistema imune. Não é a toa que criança que não dorme tem uma tendência maior a estar sempre doente.
O sono restaura, reorganiza, e protege. Sim, PROTEGE.
As principais teorias sobre a função do sono se dividem em cinco grandes áreas:
- Teoria restauradora: o sono NREM (que a gente chama de sono quieto) permite a recuperação física (com liberação de hormônio do crescimento e reparo celular), enquanto o sono REM ajuda a restaurar funções cerebrais, e emocionais.
- Teoria da economia de energia: o sono reduz o metabolismo, poupando energia — especialmente em ambientes de escassez. Se você estiver doente, ou inanição (sem comer por muito tempo), você dormirá mais.
- Teoria da consolidação de memória: durante o sono, especialmente no REM, o cérebro reforça aprendizagens recentes e organiza memórias.
- Teoria da “desaprendizagem”: o REM também teria um papel em apagar sinapses inúteis, ajudando a manter o cérebro mais eficiente. Inclusive, durante momentos traumáticos, é no sono que a poda neural acontece.
- Hipóteses químicas: como a das “hipnotoxinas”, que sugerem que o acúmulo de certas substâncias durante a vigília induz a necessidade de dormir.
Nenhuma dessas teorias é suficiente sozinha. Mas todas elas ajudam a explicar por que o sono está presente em quase todas as espécies — e por que ele é tão complexo e bem regulado.
O que acontece quando a gente não dorme?
Em animais, a privação total de sono pode ser fatal.
Em humanos, mesmo uma única noite mal dormida já afeta atenção, humor e resposta motora.
Em crianças, a vulnerabilidade é ainda maior: elas apresentam mais sonolência diurna, comportamento desorganizado, e demoram mais tempo para se recuperar dos efeitos da privação. Criança que não dorme não fica sonolenta, fica hiperativa, desatenta e até mesmo, opositora.
O cérebro infantil precisa dormir para amadurecer. O sono não é luxo — é desenvolvimento. É por isso que me impressiona que ainda haja na internet discursos de que “não dormir na infância é normal”. Se tem um tempo que se precisa dormir, é durante o momento de intenso desenvolvimento neurológico doo ser humano.
Bebês dormem diferente — e por um bom motivo
O sono REM é mais abundante nos recém-nascidos. Em torno de 50% do tempo adormecido ocorre neste estágio, o que faz com que o sono do seu bebê seja mais superficial e suscetível à despertares. É nele que ocorrem picos de síntese proteica e atividade neural — fundamentais para o amadurecimento do cérebro.
Conforme a criança cresce, o sono NREM (especialmente o de ondas lentas) se intensifica. É nesse estágio que o corpo libera hormônio do crescimento e realiza processos anabólicos profundos. A partir de 3 meses de vida o bebê começa o sono neste estágio, o que torna mais fácil colocar o bebê no berço (mas nem sempre, não é mesmo?)
O sono muda conforme o desenvolvimento. E essas mudanças não são aleatórias — são parte da própria construção do cérebro e do corpo da criança.
Dormir é estar vivo
O sono não é apenas um estado de repouso. Ele é um processo ativo, regulado por estruturas cerebrais precisas e refinadas. A transição vigília-sono não acontece por exaustão, mas por um comando biológico complexo e que depende de dois mecanismos de regulação (homeostático e circadiano), além de muitos processos neurais acontecendo.
A ciência do sono mostra que não se trata apenas de “ficar quieto e fechar os olhos”. Trata-se de um circuito que permite existir — crescer — aprender — e ser.
Pra levar pra casa:
Se você sente que seu filho dorme mal, é porque você já tem observado os efeitos da restrição e fragmentação do sono na vida dele, e na ua.
E quando a gente entende o que o sono é de verdade, passa a tratar com mais respeito esse processo — tanto no bebê quanto na mãe. Porque dormir bem é mais do que necessário. É vital.
No sono, boa parte da vida se organiza e acontece. =]