
Por que o Sleep Tight não utiliza a teoria dos “saltos de desenvolvimento”
Você já deve ter ouvido falar: “seu bebê está passando por um salto de desenvolvimento, por isso está dormindo pior”.
Essa ideia — a de que o desenvolvimento infantil acontece em picos abruptos e seguidos de regressões comportamentais — foi popularizada por livros e aplicativos muito conhecidos entre as mães, as tais… semanas mágicas (trágicas).
Mas no Sleep Tight, a gente escolheu não usar essa teoria. E aqui eu te explico o porquê.
O cérebro do bebê não salta. Ele amadurece.
A ciência mostra que o desenvolvimento neurológico acontece de forma contínua, progressiva e esperada, não em explosões desordenadas.
Claro, há períodos de maior plasticidade ou reorganização — como quando o bebê começa a rolar, sentar, engatinhar — mas esses marcos são parte de um processo gradativo, com base genética, ambiental e relacional. Não acontecem de um dia para o outro, e sim, desenvolvem-se aos poucos.
🔹 Estudos sobre mielinização, sinaptogênese e poda neural mostram que as conexões cerebrais se formam e se refinam ao longo do tempo, com períodos sensíveis que se estendem por meses ou anos — não por semanas, como sugerem os “saltos”.
🔹 A neuroimagem funcional confirma que regiões diferentes do cérebro amadurecem em tempos diferentes, de forma organizada, conforme a criança interage com o ambiente. Nada disso acontece “do nada”, ou com dias de “tempestade”.
🔹 O desenvolvimento sensório-motor e cognitivo é acompanhado pela neurociência por meio de traços longitudinais. E embora o comportamento do bebê possa parecer mudar “de uma hora pra outra”, o substrato neurológico por trás disso vem sendo construído aos poucos — como tijolos de uma parede. Um dia ela está completamente construída.
Mas então por que o bebê muda tanto em certas fases?
Porque ele está aprendendo, reorganizando, testando. Não é salto, nem regressão. É processo adaptativo. As regressões ocorrem somente mediante problemas neurológicos, o normal é sempre o avanço.
Muitas vezes, uma nova habilidade motora — como rolar, sentar ou ficar de pé — interfere no sono porque ativa o sistema nervoso, excita a percepção corporal e desafia o bebê a integrar novidades. É como estar empolgado demais com uma nova descoberta.
Além disso, fases de crescimento físico, aumento da interação social, introdução alimentar, nascimento de dentes e mudanças na rotina familiar também impactam o sono. E nem sempre é possível perceber o que trouxe a mudança no padrão.
Nada disso exige a explicação mística de “saltos invisíveis”.
A explicação real já é incrível o suficiente — e tem nome: maturação. =]
O problema de esperar por algo que nunca chega
A teoria dos saltos pode parecer acolhedora no início — afinal, dizer “é só um salto, vai passar” soa melhor do que admitir que a gente não sabe o que fazer. Mas na prática, ela faz muitas mães ficarem paradas esperando por uma melhora espontânea que nem sempre vem.
Quantas vezes você ouviu: “é o salto dos 4 meses”, “agora é o dos 8”, “esse é o dos 12”?
E quantas vezes percebeu que, na verdade, o sono piorou e não voltou mais ao que era?
É porque o que você observou não era um salto. Era o sono desorganizado se instalando. E o tempo que poderia ser usado para agir com estratégia foi perdido esperando por uma fase que “passaria sozinha”. Mas não passou.
Pior: muitos programas e perfis que se dizem “embasados pela ciência” usam os saltos como desculpa genérica para qualquer dificuldade no sono, simplesmente porque não sabem o que fazer diante de um bebê que acorda 10 vezes por noite.
E a tal da orexina?
Esse é o nome da substância que começa a bombar no cérebro do bebê por volta do quarto mês. A orexina é como um “cafezinho interno”: deixa o cérebro em estado de alerta, ativa a vigília, dificulta o sono profundo.
E é por isso que, por volta dos 4 meses, muitos bebês dormem pior.
Não é porque regrediram. É porque evoluíram.
Estão mais acordados pro mundo — inclusive às três da manhã.
Aqui no Sleep Tight, a gente explica isso com fisiologia. Porque não tem mistério — tem ciência. Seu bebê está amadurecendo. E às vezes, isso atrapalha o sono mesmo. Mas passa. Com apoio, rotina e sono independente.
Nosso compromisso é com o que a ciência comprova
No Sleep Tight, respeitamos as mães e sabemos que muitas encontraram nos “saltos” uma forma de nomear suas dificuldades — e isso merece empatia.
Mas como profissionais de saúde, escolhemos trabalhar com base em evidências robustas.
Preferimos explicar o que está acontecendo com seu bebê a partir da fisiologia do sono, da maturação neurológica real e dos impactos ambientais e emocionais sobre o comportamento. Isso não só acolhe melhor as famílias como dá a elas mais clareza, autonomia e previsibilidade.
Não é sobre negar que o bebê muda. É sobre explicar essas mudanças de forma respeitosa com o que a ciência já sabe — e com o que você, mãe, precisa entender para se sentir segura.
E sobre o autor da teoria…
A teoria dos “saltos” foi criada pelo pesquisador Frans Plooij, mas é importante saber que sua proposta não passou pelos padrões rigorosos da ciência.
O trabalho original recebeu críticas sérias da comunidade acadêmica, e Plooij foi desligado da universidade onde atuava após questionamentos sobre a falta de método confiável. Inclusive, a coautora original da teoria, Hetty van de Rijt, se afastou do projeto anos depois.
Ou seja: apesar da popularidade, a teoria dos saltos nunca foi validada cientificamente — e foi construída sobre observações muito limitadas e não replicáveis.
No Sleep Tight, a gente acredita que você merece mais do que consolo momentâneo.
♡
2 comentários em “Por que o Sleep Tight não utiliza a teoria dos “saltos de desenvolvimento””
O mais preocupante é que os profissionais não avaliam o bebê e as nossas queixas. Tudo é salto…
Infelizmente a maioria aderiu à ideia!