O que acontece no quarto mês? (entenda por que o sono do seu bebê muda — e por que isso não é uma regressão)
Você já teve a impressão de que seu bebê “desaprendeu” a dormir justamente quando parecia que as coisas estavam engrenando? Que aquele bebê que até tirava uns cochilos longos agora só faz sono de passarinho? Pois é. Isso tem nome popular: regressão do sono. Mas a ciência diz outra coisa. Não é regressão. É reorganização. Crescimento. E muita, muita orexina.
Vamos conversar sobre esse quarto mês — o mês do “quase dorme, mas não dorme”.
Bem-vinda ao “marco da maturidade do sono (e do caos)”
Até os três meses de idade, o sono do bebê é caótico, mas previsivelmente caótico. Ele alterna entre fases de sono ativo e sono quieto sem uma ordem muito lógica, dorme no colo, no carro, no meio da sala com a TV ligada e, se você tiver sorte, dorme também à noite. O que poucos pais sabem é que esse padrão “aleatório” de sono é uma fase de transição — o cérebro está operando em sistema básico, sobrevivência garantida, mas sem tanta complexidade.
Mas aí… entra o quarto mês. E com ele, um pacote de atualizações no software do sono.
É nesse ponto que o bebê começa a organizar o sono como um ser humano maiorzinho. Ele passa a apresentar ciclos de sono mais definidos (REM, NREM e seus estágios), e a arquitetura do sono se aproxima, em complexidade, da do adulto. Ou seja: agora ele dorme em blocos mais estruturados, com transições entre sono leve e profundo mais nítidas. Parece bom? É. Mas tem um porém.
Ao final de cada ciclo (que continua curto, cerca de 45–60 minutos), o bebê entra num estado de semidespertar. E se ele ainda não sabe voltar a dormir sozinho… ele acorda. De verdade. E chama. Você.
O papel da orexina: o tal do “acordei e agora percebo tudo”
Agora vem o ouro. Cientificamente falando, esse momento da vida do bebê coincide com o pico de orexina no cérebro — um neuropeptídeo que, simplificando, funciona como o animador de festa do sistema nervoso. A orexina estimula vigília, mantém o cérebro alerta, desperto, interessado no mundo.
Por isso, no quarto mês, o bebê não só acorda mais vezes: ele acorda mais “presente”. Com os níveis de orexina lá no alto, seu bebê está mais responsivo aos estímulos, mais curioso, mais elétrico. E sim — mais difícil de embalar. É como se o corpo dissesse: “agora que eu sei que dá pra ficar acordado, quero explorar tudo”.
Isso não é uma falha do sono. É um marco de desenvolvimento neurológico avançado.
O sono piorou… ou o cérebro evoluiu?
Esse é o paradoxo da tal “regressão” do quarto mês: o sono parece ter piorado. Mas, na verdade, ele está ficando mais maduro, mais organizado, mais próximo do que será o sono definitivo do bebê nos próximos anos. Só que, para isso acontecer, o bebê precisa passar por essa fase de desorganização temporária.
Imagine uma casa em reforma: antes era um cômodo só, tudo junto e misturado. Agora está virando sala, quarto, cozinha. No processo, faz bagunça. O bebê está assim — reconstruindo os cômodos do sono. E por um tempo, ele vai precisar de mais ajuda para atravessar a noite.
E como o rolar entra nessa história?
Ah, o rolar. O primeiro marco motor que, literalmente, tira o bebê do lugar. E também do sono.
Por volta de 4 meses, muitos bebês começam a tentar (ou conseguir) rolar. E adivinhe quando eles gostam de treinar essa nova habilidade? Isso mesmo: às 3 da manhã.
É como se o cérebro, acordado pela orexina, dissesse: “já que estou aqui… que tal um treininho de rolamento lateral com giro completo?”. Isso ativa músculos, ativa a mente, ativa o berço. E o bebê, que antes resmungava dormindo, agora acorda mesmo.
Mas isso passa?
Passa. Respira.
Por volta dos 5 a 6 meses, os níveis de orexina começam a se estabilizar, o bebê já domina melhor os marcos motores iniciais e o sono tende a voltar a ser mais previsível. Mas agora com uma estrutura consolidada, o que significa que ele começa a ter mais condições fisiológicas de dormir por períodos maiores — principalmente se tiver uma rotina fisiológica, um ambiente propício e, claro, algum suporte para aprender a voltar a dormir sozinho entre os ciclos.
Isso quer dizer que dá pra ajudar?
Sim, dá. E deve.
Esse é um ótimo momento para começar a estabelecer a rotina fisiológica: horários regulares, rituais previsíveis, exposição à luz de manhã, escuridão e silêncio à noite. É hora de ensinar ao corpo do bebê que o dia é para vigília e a noite é para o sono — e que ele não precisa mais da sua ajuda o tempo todo para atravessar os ciclos.
É possível atravessar o quarto mês com mais clareza, menos susto e mais consistência — sabendo que o que parece caos é, na verdade, crescimento em andamento.
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Você não está sozinha. E seu bebê não está regredindo. Ele está avançando — mesmo que de madrugada, aos gritos, e sorrisinhos, e a perna presa na grade. ♡
2 comentários em “O que acontece no quarto mês? (entenda por que o sono do seu bebê muda — e por que isso não é uma regressão)”
Amo seus textos Dra, amamento lendo, dá uma calma que tudo vai dar certo! Tenho uma bebê de 2 anos que já é sleeptinght e agora minha de 1 mês vai ser também! Rotina fisiológica é vida!
Dani, que bom saber disto! Eu me lembro de você. Como tem sido seu segundo puerpério?